sábado, 29 de setembro de 2007

Abrindo Mão do Prazer de Comer


Sumi da blogosfera por um tempo. Foram vários motivos, que vão desde aqueles dias em que estava com a perna ruim, passando por falta de motivação até chegar numa crise que na verdade foi a mãe de todos os motivos. E essa crise desencadeia o assunto de hoje: crise do peso. Já falei pro aqui que, desde que vim pra São Paulo, tenho vivido num ritmo tão sereno de vida que vem me custando uns quilos a mais =/ Estou comendo bem menos, mas em compensação, me movimentando bem pouco, o que não tem feito quase diferença na diminuição das refeições.Por outro lado, nunca estive tão em paz no geral (exceto com o peso), o que me faz concluir que prefiro mil vezes viver assim e estar com quilos à mais do que voltar pra hell way of life e manter meus 57 kg habituais. Bom, mas vamos ao que interessa.

Concluí que a gente vem comendo pouco e ruim por causa de uma busca sem fim pelo corpo ideal. Até quem diz que não se deixa influenciar por padrões de beleza de vez
em quando pode se deparar com uma situação que o faça se sentir excluído do resto do mundo...é quando não encontra aquela roupa legal no seu tamanho (esse momento é cruel), ou quando uma multidão de corpos sarados, perfeitamente equilibrados e fascinantes passam na tv, na rua ou nas revistas, anunciando cerveja, perfume, sandálias Havaianas, entre outros produtos. Mulheres “normais” (diga-se de passagem, com barriga, cabelo nem sempre lisos, lisérrimos, deslumbrantes) são encontradas apenas em comerciais de detergentes, sabão em pó, entre outros produtos limitados à cozinhas, lavanderias ou papéis de mães. O intrigante é que, a maioria dos comerciais dos produtos que beldades anunciam contrastam com a busca do corpo sarado, ou nem ao menos é destinado a um grupo encaixado totalmente nas exigências estéticas. A cerveja, por exemplo. O consumo de cerveja causa barriguinha, isso se pouco consumido, como nos fins de semana, apenas. Já as sandálias Havaianas agradam a todo mundo, por serem confortáveis e possuirem vários modelos e cores (pra falar a verdade, eu não gosto de Havaianas..prefiro Grendene =p ), mas eles insistem em por a Flávia Alessandra, Deborah Secco e Carol Castro pra anunciar ” . Tudo bem, elas são lindas,o bonito atrai e vende, e acho legal ter um corpo como o delas, mas pelamor, nem só de mulher sarada o mundo é feito..elas são minoria. Já temos que ser invadidos por tanta exposição de perfeição estética em todos os lugares..maior presssão pra nos adequarmos, nos poupem! Palmas para a Campanha Dove Pela Real Beleza, que dá lugar as mulheres normais e comuns, valorizando justamente as diferenças e o tipo mais comum que inclui a realidade da maioria das mulheres brasileiras!



Mas eu estava falando de comer pouco e mal, né? Então. Toda vez que pegamos um chocolate, ou uma fatia de pizza, sentimos gosto de culpa e nem aproveitamos o sabor divino de uma dessas iguarias. O prazer de comer já era... tudo que é gostoso, engorda. Partindo desse fato, começamos a nos alimentar pouco, preferindo alimentos “light” sem calorias, sem tempero, sem sabor, sem carinho de mãe... não sou contra comer com qualidade...bastante folhas, legumes, cereais, leite, frutas. Não estou preferindo uma não-dieta baseada apenas em doces e iguarias calóricas. Mas adoraria saborear um pudim de leite sem culpas. Pela busca do corpo ideal, abrimos mão de nos aliemntarmos, como se o saudável fosse não comer. E nosso organismo acaba se acostumando a isso. Exemplo: na única vez por dia em que como, na primeira porção já sinto a barriga crescer. Me xingo, dou socos na barriga pra ela voltar pra onde estava. Fico péssima. Tem dias em que eu quero ficar só na água e uma fruta. Toda vez que vou me pesar, aumentei um quilo. Minhas roupas se reduziram a menos de meia dúzia...esses motivs pessoais foram os que me deixaram bem chateada nos últimos dias e eu me ausentei daqui e do mundo. Agora, tomei coragem a voltar a andar como exercício físico (eu sempre andava, mas desde que roubaram meu mp3 eu parei, pois sem ele, meia hora de caminhada parecia durar 1 hora).Mas chega de falar de mim.

O que se questiona aqui é a privação do prazer que leva mulheres a encararem a comida como uma bula de remédio. Parece que não dá mais para comer com naturalidade, pois é preciso pensar nas calorias e nas gorduras trans.
Como sentir algum gosto ao ingerir praticamente uma tabela periódica? Como conseguir um corpo legal, que nos dê o prazer de tirar a canga sem vergonha, que nos dê o prazer de ir numa loja e sair com a roupa que amamos, sem que se abra mão do prazer de apreciar a comida mais simples sem sentir o gosto amargo da culpa?


Algumas imagens e citações que aqui foram inseridas encontram-se na revista TPM (Trip Para Mulheres) deste mês. Vale a pena dar uma conferida.